sábado, 9 de setembro de 2017

Segunda Parte - De Entre Rios à Congonhas

Acordei mais tarde e após caprichado café da manhã na pousada, me despedi do Gleison e sob as bênçãos de N.Sa. de Brotas, segui, rumo a cidade de Jeceaba. Neste ponto, o caminho era mais plano e sombreado, sempre às margens do Rio Paraopeba, passando por lugares muitos belos e rodeado por sítios e fazendas.

Uns 5 quilômetros a frente, me encontrei com um ciclista que vinha fazendo o trajeto da Estrada Real. Sérgio, que é paranaense, seguia pelo seu 15º dia, rumo a Parati-RJ e me avisou que Congonhas estava lotada, devido ao Jubileu e que não havia conseguido hospedagem, tendo que esticar mais a sua pedalada e pernoitar em São Brás do Suaçui.

Após trocarmos votos de boa viagem, segui meu caminho. Logo mais a frente, me deparei com uma
fonte de água, na qual pude me refrescar e após alguns minutos, já chegava ao povoado de Rio Abaixo.
Água geladaça!

Andei por mais um tempo e as 11 da manhã, já cruzava as primeiras casas de Jeceaba. Parei para almoçar num restaurante local e após calorosa recepção, o proprietário me indicou um atalho, que seguia pela linha férrea até o povoado de Caetano Lopez.
Rumo a Caetano Lopes

Andei por uns 7 quilômetros, até chegar ao vilarejo, no qual abasteci o cantil e continuei, rumo a Santa Quitéria, local pacato e de pessoas muito sorridentes. Passei por um muleiro, que me indicou um atalho e me ofereceu café.

As 14 horas, sai de Santa Quitéria, seguindo o atalho que o novo amigo me indicara. Ele só não me avisou que teria que subir uma serra, mas tudo bem. Segui por meio a uma reserva ambiental, não ouvia nem um barulho de bicho ou gente e aquilo me deixou um pouco incomodado. Após subir e descer muitos morros, finalmente cheguei ao asfalto, que me levava ao meu destino final.
Uma das pérolas do caminho


Nesse ponto, já não tinha água e o cansaço era extremo. Fui seguindo a estrada asfaltada por uma hora, até avistar uma casa, na qual chamei e pedi por água. Um casal rodeado por uns 5 cães bravos veio me receber. Muitos simpáticos, me perguntaram de onde eu era e se assustaram com a distância que havia percorrido. Me disseram que estava a 15 minutos de Congonhas, para meu alívio.

Mas 15 minutos para quem estava cansado como eu, viraram 45 e as 17 horas, avistei o Santuário de Bom Jesus. Parei numa casa na entrada da cidade, que havia uma placa oferecendo banho por 6 reais. Não pensei duas vezes, pois estava imundo e destruído.

Após o banho, segui rumo ao meu destino final: a Basílica repleta de obras do artista "Aleijadinho". Na minha cabeça havia um misto de emoções: a alegria do dever cumprido e ao mesmo tempo a tristeza da jornada estar no fim.

Com muita dificuldade para andar nas ruas históricas de pedras, cheguei a igreja, assisti à missa, agradeci a Deus pelas forças que tive, aos meus pés por me levarem tão longe e dei por fim minha louca e emocionante aventura.


Não fiz esta viagem para ser melhor que ninguém, nem para provar minha capacidade. Fiz por fazer, e no final ela me serviu para mudar o meu pensamento sobre várias coisas da vida. Foi pura reflexão, suor, alegria e diversão.

E com a benção do Bom Jesus de Matozinhos, já planejo a viagem do ano que vem, porque isso vicia, meus amigos! Até a próxima!

Reveja o início dessa jornada vendo a parte 1
Total caminhado no segundo dia: 37 km

Peregrinação a Congonhas - MG   - Parte 1

Total caminhado no Primeiro Dia: 42,6 km

Recentemente, me veio uma vontade de largar tudo e sair andando pelo mundo. Então comecei a pesquisar sobre peregrinações e travessias que as pessoas costumam fazer. Olhei e ouvi muitos relatos sobre o Caminho de Santiago de Compostela, O Caminho da Fé, de Aparecida - SP entre outros. Daí tive a idéia de fazer meu próprio caminho: Sair da minha casa, em Resende Costa - MG até a cidade de Congonhas, onde estaria acontecendo o famoso Jubileu do Bom Jesus.

Já havia ido diversas vezes, de carro com minha família. Mas a pé seria um novo desafio. E como a fé andava meio apagada, esta viagem serviria como uma maneira de renovar o corpo e a mente.

Traçada a meta, reuni o máximo de informação que consegui. Olhei mapas, calculei distâncias, preparei a mochila e parti na quinta feira, feriado de 7 de setembro.

Às 4 da manhã, sob a luz da lua cheia, iniciei meu caminho. Após realizada a primeira oração, parti, rumo a cidade de Entre Rios, meu primeiro local de pernoite. Nesta primeira etapa, seriam 43 quilômetros por estradas de terra, com muita poeira pelo caminho.

Ao caminhar pela cidade, só ouvia o latir dos cachorros e alguns galos começando o seu trabalho de avisar o começo de mais um dia.

Após cerca de uma hora e meia andando, já cruzava o Alto do Jacarandá, local onde avistaria Resende Costa pela última vez. Me despedi da minha querida cidade, pedindo a padroeira N.S. da Penha, que me desse forças para voltar em breve.

Aos poucos, o dia ia clareando, e com ele, o movimento dos carros, que iam e viam, trazendo a temida nuvem de poeira. Alguns até paravam, me oferecendo carona, mas eu negava e agradecia, dizendo que só estava fazendo uma caminhada.

Às 7 horas, já passava pelo povoado do Andrade, parei no cruzeiro do local, onde ouvi uma motosserra trabalhando ao longe e um trator arando a terra. Pensei na coragem do fazendeiro, em preparar uma terra que não via chuva a mais de 3 meses. Era a confiança de melhora do tempo? Espero que sim.

Continuei andando até o povoado Curralinho dos Machados, local que há uma igrejinha muito simpática e algumas casas ao redor. Neste local, só vi um homem, muito atarefado em terminar de ordenhar suas vacas e alimentá-las. Só o cumprimentei, para não o incomodar e sentei-me num banco de madeira em frente a escola do lugarejo. aproveitei para fazer um lanche e massagear os pés um pouco. Após o descanso, sabia que o trecho a seguir seria mais difícil.

Um souvenir
Subi e desci muitos morros, passando por fazendas fechadas e locais sem pessoas. A água do cantil estava acabando, mas não me arrisquei a pegar água dos córregos que passei. Sempre rodeado de paisagens lindas, me deparei com uma enorme plantação de trigo, coisa que nunca havia visto ao vivo, me senti numa cena de filme.
Igual ao Filme "Gladiador"

Ao andar por mais alguns minutos, me encontrei com um senhor cavaleiro, que vinha em sentido contrário. Nós tivemos uma breve conversa. Ao contar-lhe sobre minha aventura, vi no seu rosto uma mistura de admiração e pena. Disse que ia ser uma longa jornada e me ofereceu almoço. Agradeci e neguei, pois havia muitas provisões na mochila. Segui adiante.

Por volta de 11 e meia, chegava ao povoado dos Coelhos, onde abasteci meu cantil e bebi o famoso guaraná de garrafinha que hoje só se vê no interior. após conversa com os donos da venda, segui meu rumo sob as bênçãos de N.S das Graças, cuja igreja local era dedicada.

A partir daí, as coisas ficaram mais difíceis. O sol estava castigando, e as pernas já estavam reclamando. Diminui o ritmo e ao longe já avistava a cidade de Entre Rios. Restavam apenas 12 km, que pareciam 100. Mas não desanimei e fui seguindo devagar, parando diversas vezes para descanso.
Sol de rachar


Às 2 da tarde, passava pela Cachoeira dos Faleiros, onde o Sr. Adilson, dono da venda local, abasteceu meu cantil e pediu orações pela sua família, nas quais prometi que faria ao longo da jornada. E assim o fiz.

Finalmente, por volta das 4 da tarde, cruzei o Rio Brumado, entrando na cidade de Entre Rios, coberto de poeira e cansaço, onde fui recebido na pousada São Mateus, pelo meu anfitrião Gleison, que me ofereceu ótimas acomodações e por um preço bem em conta. Tomei um banho, avisei a família que estava bem e tratei de ir descansar, pois o segundo dia seria igualmente difícil. Apaguei.

Veja a parte 2 clicando aqui

Bon Camino!